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segunda-feira, 6 de abril de 2009

O Rei e o Sapateiro

Houve uma vez um rei que governava seu pequeno país com justiça e amor. Sem que os súditos soubessem, o rei disfarça-se ao entardecer e circulava pela ruas das cidade a fim de entender a vida segundo a perspectiva do povo.

Certa noite, caminhando disfarçado, o rei atraído a uma choupana singela . As portas e janelas estavam escancaradas, e lá dentro havia um homem mais ou menos robusto que comia e cantava com voz possante. Batendo à porta, o rei perguntou:

-Aqui tem boas-vindas para um hóspede?

-Um hóspede é uma dádiva de Deus! – exclamou o homem. – Entre , por favor, e como comigo.

O rei sentou-se e começou a comer a refeição muito simples, porém substancial, que havia na mesa. Os dois homens conversaram muito à vontade e imediatamente sentiram um vínculo entre eles. Finalmente, o rei perguntou:

- Qual é a sua profissão, meu amigo?

- Sou sapateiro – veio a resposta entusiasmada. – Todos os dias, pego minha caixa de ferramentas e circulo pela cidade, consertando os sapatos das pessoas. Elas me dão algumas moedas, que guardo no bolso. Findo o dia, gasto tudo para comprar minha refeição da noite.

- Você gasta todo seu dinheiro, todos os dias? - perguntou incrédulo o rei. – Não faz poupança para o futuro? Como será seu amanhã?

- O amanhã, meu amigo,está nas mãos de Deus – disse o sapateiro, rindo feliz. – Ele proverá, e eu o louvarei dia após dia.

- Antes de partir naquela mesma noite, o rei pediu licença para voltar na noite seguinte.

- Você sempre será bem-vindo , meu amigo – respondeu o sapateiro amigavelmente.

No caminho para casa, o rei elaborou um plano para pôr à prova o humilde sapateiro. Na manhã seguinte, fez uma proclamação e proibiu o conserto de sapatos sem autorização oficial. Quando voltou na noite seguinte, viu que o sapateiro estava alegre comendo e bebendo.

- O que você fez hoje caro amigo? – perguntou o rei, fingindo não estar surpreendido.

- Quando fiquei sabendo que nosso gracioso rei emitiu uma proclamação que proíbe o

conserto de sapatos sem autorização oficial, fui ao poço, e tirei água e a levei à casa das pessoas. Ele a me deram algumas moedas, que coloquei no bolso, e saí para gastar com esses alimentos – contou o sapateiro. Venha, coma , há bastante para todos.

- Você gastou tudo? Perguntou o rei.- o que acontecerá se não conseguir tirar água amanhã? O que fará então?

- O amanhã está nas mãos de Deus! – exclamou o sapateiro.

- Ele proverá, e eu, seu humilde servo, o louvarei todos os dias.

Na manhã seguinte, o rei resolveu pôr seu novo amigo à prova outra vez. Enviou seu arautos pelo país todo para anunciar que era ilegal uma pessoa tirar água para outra. Naquela noite, voltou para visitar o sapateiro e viu que estava comento e bebendo e desfrutando a vida, como antes.

-Fiquei preocupado com você esta manhã quando ouvi a proclamação do rei. O que você fez?

- Quando ouvi o novo edito do nosso bom rei, saí para cortar lenha. Depois de ajuntar um fardo, levei-o à cidade e vendi. As pessoas me deram algumas moedas, coloquei-as no bolso e, depois do fim do serviço, gastei tudo em comida. Comamos.

- Você me deixa preocupado – disse o rei. – O que acontecerá amanhã se não conseguir cortar lenha?

- O amanhã, meu bom amigo está nas mãos de Deus. Ele proverá.

Cedo na manhã seguinte, os arautos do rei proclamaram que todos os lenhadores deviam apresentar-se imediatamente ao palácio para servir no exército do rei. O sapateiro que virara lenhador apresentou-se obedientemente e recebeu treinamento durante o dia todo. Findo o dia, não recebeu pagamento, mas teve licença para levar sua espada para casa. A caminho do lar, entrou numa casa de penhores, onde penhorou a lâmina. Em seguida, comprou o alimento, como de costume. Chegando em casa, pegou um pedaço de madeira e fez dele uma lâmina, recolocando a nova “espada” na bainha.

Quando o rei chegou naquela noite, o sapateiro lhe contou a história inteira.

- O que acontecerá amanhã se houver inspeção de espadas? – perguntou o rei.

- O amanhã está nas mãos de Deus – respondeu o sapateiro com calma. – Ele proverá.

Na manhã seguinte, oficial encarregado tomou o sapateiro pelo braço.

Hoje você vai servir de algoz. Esse homem foi condenado à morte. Decapite-o

Sou homem brando – protestou o sapateiro. – nunca machuquei ninguém em toda minha vida.

Você cumprirá as nossas ordens! – gritou o oficial.

Enquanto caminhavam até o local da execução, a mente do sapateiro fervilhava. Com o prisioneiro ajoelhado a sua frente, o sapateiro segurou o punho da espada numa das mãos, estendeu a outra aos céus e orou em voz em audível:

- Deus todo-poderoso, somente tu podes julgar os inocentes e os culpados. Se esse prisioneiro for culpado, que minha espada seja bem afiada, e fortes os meus braços. Se porém ele for inocente, que essa espada seja feita de madeira.

Comovido, o sapateiro desembainhou a espada. Os espectadores ficaram atônitos ao ver a espada era de madeira.

O rei que observava os acontecimentos à distância, correu até seu amigo e revelou-lhe sua verdadeira identidade.

- A partir de hoje, você virá morar comigo. Você comerá da minha mesa. Eu serei o hospedeiro, e você será meu convidado. O que você diz disso?

O sapateiro deu um sorriso largo.

- O que digo é que o Senhor proveu, e você e eu juntos louvaremos o Senhor dia após dia.